terça-feira, 21 de outubro de 2014

DIGO AO BRASIL, QUE FICO.

                                                          Lobão ameaça ir embora do Brasil se as coisas piorarem para o lado dele. Entenda-se por piorar se a Dilma vencer as eleições. Sorte dele que pode ir embora sempre que as coisas pioram "pro" seu lado. Quando as coisas estiveram muito, mas muito ruins mesmo para o meu , não pude fazer o mesmo. Bem que teria gostado. Estados Unidos era meu sonho. Isso pelos idos de 1970-1984. Negócio estava feio para o meu lado. Ir a pé para a escola, fome, sem grana para comprar o uniforme obrigatório (para todo garboso, perfilado, esquelético e faminto cantar o hino nacional: “verás que um filho teu não foge a lu-uuu-tá, nem teme quem te adora a própria “morti”, terradorada...Brasil!). Ainda bem que não fui. Fiquei, vi e venci.  Fiquei quando Médice, Geisel, Figueiredo comandaram esse país com mãos de ferro. Fiquei quando Sarney governou por seis anos privilegiando banqueiros e megainvestidores internacionais, e o povo suportava uma inflação galopante e escassez de alimentos. Fiquei quando Collor protegido pela elite e grande imprensa, sabotou uma eleição e atrasou o país mais 04 anos. Fiquei e vi começarem as mudanças com Fernando Henrique Cardoso, Lula e agora Dilma. Fiquei e venci sem a ajuda de Governante algum. Lobão também ficou. Ele também venceu. Venceu com sua música de rebeldia que muitas vezes me consolou quando a vida me parecia sim, vida bandida. Fiquei e vi chegar uma época em que o Governo Brasileiro tornou menos bandida a vida de outros Badinos (meu apelido) e proporcionar-lhes que sem temer a própria morte, não fujam da luta e sobrevivam sem precisar mais “da caridade de quem lhes detesta”. E ficarei, vença Dilma ou Aécio. E o(a) respeitarei como Presidente(a) porque acima de tudo é o meu país que me interessa, e meu amor pelo Brasil é incondicional. Talvez venham dias melhores, talvez piore, não importa. Direi sempre ao Brasil: EU FICO! Fico do teu lado meu combalido país; estarei com teus filhos, meus irmãos, ombreado nas reivindicações suprapartidárias. EU FICAREI, e não importa quem governe, orarei por Ele(a), pelo seu sucesso, porque já não sou um menino obrigado a perfilar-se para cantar teu hino, mas porque vi, ouvi e bradei com teu povo heroico o brado retumbante da liberdade, hoje estufo o peito e canto e choro: TERRA ADORADA, BRASIL!.

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

CHUVA DE BELÉM.



Falando sério, não tem como a chuva em Belém. Imperativa e hiperativa nos obriga a interagirmos com ela. Ela é quem manda. Audiência? Horário, compromisso? "Te vira"! Melhor dizendo (diz ela): - te vira prá cá, olha prá mim. Desacelera, olha pela vidraça e vê como eu deixo a nossa cidade e seus moradores de alma lavada!. Verdade. A chuva é a verdadeira mãe dos paraenses. Com ela não tem essa estória de peraí um pouquinho. Nada disso. Fica aqui e presta atenção no que eu estou te dizendo. Acomoda menino(a) que tu ainda vai ter um troço. Depois da chuva sim, tu voltas ao teu corre corre. Todo mundo vai compreender. Ah, mãe chuva que sempre vem, mais cedo ou mais tarde. Chega mais mãezona e conta- me aquelas historias de quando eu era menino e tu me banhavas na rua. Vamos lembrar quantas vezes tu me impedistes de sair para encontrar com aquela menina. Ou estragastes o campinho da pelada e eu fiquei emburrado contigo. Gosto também da tua ironia quando transbordas as docas e estivas e alagas tudo de novo e assim expões os teus filhos que enveredaram pela política sem ética e tentam tirar proveito de tuas enchentes afirmando que agora haviam conseguido te domar. Eh mãezona, quer saber? Rendo- me aos teus caprichos. Te esbalda. Lava-me de novo a alma e renova meu espírito com tuas águas bentas. As favas os compromissos! Quem mandou eu crescer. Quisera nunca ter deixado de ser menino, mãe, mas, tu sabes, papai tempo é implacável, sempre te sobrepondo. Parece que Ele só pára quando tu chegas. Tem nada não. Quando ele estiver ocupado demais com as tarefas que o melhor amigo dele, o Sr. Destino, lhe dá, então voltaremos a nos divertir. Só nós dois. E hajam recordações e mais banhos.







MIRIAM LEITÃO, A TERRORISTA.

               Quem diria que a jornalista da Globo foi, pelo menos para os militares, uma “perigosa terrorista”. Está tudo revelado por ela mesma, na entrevista que concedeu ao jornalista Luis Cláudio Cunha e disponível no site do “observatório da imprensa” (http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed812_a_reporter_pergunta_o_ministro_gagueja). Li “tortura nunca mais” o livro da arquidiocese de São Paulo que coleta depoimentos sobre tortura na ditadura e lembro do depoimento de Miriam sobre o uso de cobras, mas, confesso, não associei o nome à pessoa. Transcrevo a seguir alguns trechos da entrevista de Miriam:
“Não sei quanto tempo durou esta agonia. Foram horas. Eu não tinha noção de dia ou noite na sala escurecida pelo plástico preto. E eu ali, sozinha, nua. Só eu e a cobra. Eu e o medo. O medo era ainda maior porque não via nada, mas sabia que a cobra estava ali, por perto. Não sabia se estava se movendo, se estava parada. Eu não ouvia nada, não via nada. Não era possível nem chorar, poderia atrair a cobra. Passei o resto da vida lembrando dessa sala de um quartel do Exército brasileiro. Lembro que quando aqueles três homens voltaram, davam gargalhadas, riam da situação. Eu pensava que era só sadismo. Não sabia que na tortura brasileira havia uma cobra, uma jiboia usada para aterrorizar e que além de tudo tinha o apelido de Míriam. Nem sei se era a mesma. Se era, talvez fosse esse o motivo de tanto riso. Míriam e Míriam, juntas na mesma sala. Essa era a graça, imagino. Eu com uma barriga de sete meses de gravidez. O processo, que envolvia 28 pessoas, a maioria garotos da nossa idade, nos acusava de tentativa de organizar o PCdoB no estado, de aliciamento de estudantes, de panfletagem e pichações. Ao fim, eu e a maioria fomos absolvidos. O Marcelo foi condenado a um ano de cadeia. Nunca pedi indenização, nem Marcelo. Gostaria de ouvir um pedido de desculpas, porque isso me daria confiança de que meus netos não viverão o que eu vivi. É preciso reconhecer o erro para não repeti-lo. As Forças Armadas nunca reconheceram o que fizeram. Minha vingança foi sobreviver e vencer. Por meus filhos e netos, ainda aguardo um pedido de desculpas das Forças Armadas. Não cultivo nenhum ódio. Não sinto nada disso. Mas, esse gesto me daria segurança no futuro democrático do país”.
Talvez agora, com essa revelação de haver sido presa e torturada pelos bandidos de 1964, Miriam atraia a admiração da esquerda aloprada e seus representantes parem de associar o trabalho dela a interesses dos “poderosos inimigos do povo”. Por outro lado, alguns que a admiravam talvez passem a detesta-la em razão desse seu passado de “terrorista”. É o preço que se tem de pagar por ter forjado uma personalidade forte, corajosa e independente. Bem diferente dos bandidos covardes que se escondiam atrás das fardas e lambiam o chão dos que os financiavam. Bem diferente também de Celso Amorim, o Ministro da Defesa de Dilma, que também se acovarda e protege os Militares de hoje que se solidarizam com seus pares torturadores de ontem. São todos eles cúmplices de crimes contra a humanidade. É preciso que se conte a verdade para que as novas gerações de brasileiros não continuem sendo ingênuamente (alguns) enganados pela versão oficial. Revisão da Lei de Anistia, punição ainda que simbólica para esses bandidos de outrora, e pedido de perdão pelos militares de hoje, (até para que não pareça que protegem aqueles criminosos e a eles sejam assemelhados) são medidas que já passarm da hora de serem tomadas em prol do restabelecimeno da verdade. Quanto à Dilma, poderia fazer sua parte em relação à Miriam e mandar punir exemplarmente os que recentemente tentaram denegrir a imagem da jornalista alterando seu perfil na Wikipédia. Segundo a imprensa, esse terrorismo partiu de computadores de pessoas ligadas ao Planalto.

sábado, 7 de junho de 2014

                                               O ônibus e o tempo
                                                           Osvaldino Junior
O ônibus já estava quase lotado. Desacostumado com os solavancos, custei a equilibrar-me na cabine da cobradora que já me olhava impaciente. Outros preciosos segundos para retirar a carteira do bolso e o pagamento da tarifa com uma nota de R$-10,00 fizeram de mim seu pior inimigo. A vingança veio em moedas. Ultrapassada a linha vermelha hostil, ainda cambaleante encaminhei-me para o fundo do coletivo. Uma senhora olhou-me com certo ceticismo, como que dizendo: “você não é daqui”. Pensei: “fui descoberto”. Um jovem casal cochichava baixinho, enquanto afagavam as alianças. Lembrei das delícias e agruras desse início de vida. Cá comigo desejei-lhes felicidades sinceras. Na parada seguinte completou a lotação e uma mulher acima do peso buscou entre os homens alguém que lhe cedesse o lugar. Em vão. No meu tempo (pronto, delatei minha idade) dificilmente eu ficava sentado, pois era impulsivo levantar para uma senhora, um idoso, gestante ou simplesmente uma garota. Com o ônibus cheio perdi um pouco do espaço e até o “cano” do banco onde eu me segurava cedi para uma jovem que não alcançava o apoio que fica no teto e estava com dificuldades para se equilibrar. Sorriu levemente agradecendo. A senhora que desde o inicio desconfiou de mim percebeu meu gesto e aí então foi que me senti um “ET”. Na parada seguinte mais gente. O motorista apressa a subida dos passageiros e pisa no acelerador em ponto morto. O “rum, rum” do motor, alertou-me que nada mudou desde que há anos entrei num ônibus como minha única opção de “mobilidade urbana”. Corri o olhar pelas pessoas e quase pude reconhecê-las. Na verdade, algumas coisas mudaram, sim. As pessoas, mais absortas, “conversam” com seus fones de ouvidos. De vez em quando um celular toca. Mochilas, mochilas e mochilas, atrapalham quem as carrega e quem precisa passar. Um rapaz, sem pedir licença, vai abrindo passagem. Por trás sinto sua genitália me esbarrando, ainda que eu tenha me inclinado e igualmente esbarrado no passageiro que estava sentado à minha frente. Sinto nojo. Olhei para a mocinha ao meu lado e vi em seu rosto o mesmo sentimento. Também na outra ao seu lado, e na outra e na outra. À minha direita uma se fazia de desincomodada. Talvez tenha sido a maneira que encontrou de lidar com essas humilhações. Lembrei das mulheres “acochadas” do metrô de São Paulo e concluí que por aqui não é diferente. O calor me fez esquecer logo esse inconveniente. A viagem prossegue. Alguém conversa em voz alta ao celular. Duas senhoras se cumprimentam também em voz alta e perguntam reciprocamente por conhecidos comuns. Um jovem dorme de boca aberta. O calor continua. Fiquei feliz de não estar de paletó. Penso num banho. Lá fora, automóveis refrigerados parecem naves espaciais transportando seres de outro planeta. Sinto-me culpado pelo calor, por estar ocupando espaço de alguém que não conseguiu entrar na última parada. Sinto culpa até por haver progredido numa cidade em que a maioria de seus cidadãos não passa de voto e estatística para as Autoridades. Na parada seguinte, ao descer arrisco uma última olhada para “aquela” senhora. Seus olhos meio espremidos me dizem: “Você é um deles”.

  

quinta-feira, 13 de junho de 2013

             COMO EVITAR UMA BADERNA IGUAL A DE SÃO PAULO


Considero impossível evitar baderna em manifestações em que predominem os jovens. A tensão é muito forte, sempre existem aqueles que estão a fim mesmo é de uma boa briga, os “avoados”. E mesmo os pacíficos, como eu era, não aceitam provocações, muito menos levar porrada de graça. Basta um começo e pronto...É como isso que se vê em São Paulo. Mas, estou certo que isso poderia ser evitado. Existem, atualmente, alternativas democráticas (que não haviam na ditadura) de se fazer valer nossos direitos, como o de  transporte público decente, eficaz e a preço acessível. Ação Civil Pública é uma delas. Transporte público ruim, péssimo? Empresários gananciosos? Prefeito corrupto que conluia com eles? Ministério Público neles! Liminares e tutela antecipada neles! Tem também as CPI’s  das Câmaras de Vereadores. O quê? Eles também são corruptos? Caramba! Bem, que tal a OAB, a Associação de Magistrados, a ABI, o PROCON? Sim, todos eles podem fazer algo e evitar que o povo vá pra rua e provoque essa baderna. Ninguém fez nada? Ah, então desculpem aí, tá, mas eu vou pra rua. E sinto muito, mas se houver provocação ou bala de borracha ou gás, vai ter reação, vai ter porrada, chamem isso de baderna se quiserem. Chamaram de baderneiros para os jovens que resistiram a invasão soviética na primavera de Praga; para aqueles da praça da paz celestial na China; para os negros que reagiram ao assassinato de um deles pela polícia branca de Los Angeles, e até para os “carapintadas” brasileiros que foram as ruas expulsar o presidente corrupto. O que não dá é pra botar a bunda na janela pra passar a mão nela. E digo ainda uma última alternativa para evitar a baderna: basta o governo agir contra a ganância dos empresários de transporte coletivo com o mesmo rigor com que age contra os manifestantes.

domingo, 28 de outubro de 2012

APRENDENDO SOBRE AMOR E LIBERDADE COM MAMÃE


Quando menino eu gostava de criar passarinhos em gaiola. Curió, bigode, patativa e coleira eram meus preferidos. Sempre mais de um. Papai reprovava veementemente. Mais do que isso, proibia. Dizia que os pássaros deveriam ser livres, e que assim o deveríamos admirá-los. Quem realmente amasse pássaros jamais os prenderia em uma gaiola. Não adiantavam seus argumentos, eu insistia em criar, ainda que fosse um. Para driblar a proibição recorria à casa de amigos. Com um deles, Nando, cheguei a ter uma “coleção veneno” – era assim que chamávamos a nossa criação de passarinhos. Algum tempo depois, para minha surpresa, pois papai dificilmente cedia ou admitia exceções às suas regras, ele permitiu que eu tivesse um, só um. Agora, sim, eu podia ter um curió numa gaiola em casa, sem me preocupar que meu pai o soltasse (libertasse, dizia ele). Mas, as censuras não terminaram. Sempre que me via cuidando da gaiola não perdia a oportunidade para falar sobre liberdade dos pássaros, reprovação de Deus e etc, ao que eu sempre retrucava que eles, os pássaros, não tinham a mesma percepção que nós, e, afinal, se eu o soltasse, outro garoto iria aprisiona-lo ou quem sabe ele até morreria, pois já havia se acostumado em gaiola. Até que, finalmente, papai parou de “me encher” e eu pude, enfim, curtir em paz meu curió. Ah, e como eu curtia. Não importava a hora. Foi assim que uma noite cheguei em casa, por volta de 20:00 h e acendi a luz para curti-lo. Ele imediatamente começou a saltar no poleiro e cantar, para meu encantamento. Foi quando mamãe que a tudo assistia e nunca havia censurado meu “hobby” comentou que o “bichinho” depois de tanto tempo em cativeiro já havia perdido a noção de tempo e, confundido pela luz artificial da lâmpada da sala de casa, punha-se a cantar quando deveria estar dormindo, como seus irmãos que viviam soltos na floresta. A sinceridade e espontaneidade das palavras de mamãe fizeram-me pensar profundamente sobre aquilo. Porque papai me irritava e tentava convencer-me com argumentos lógicos e “políticos” eu nunca havia “sentido” o que realmente significava amar aos pássaros. Agora, menos pelo que mamãe me disse, mas pela autenticidade de seu amor pelos pássaros, eu entendi. O que sentimos pelos outros, ainda que sejam os animais, não depende do que eles compreendam ou retribuam ou agradeçam. Está em nós. Vem de Deus. Não há explicação lógica, como pretendia convencer-me papai. Brota em nosso coração. Jorra. Mamãe abriu as comportas de meu peito. Pela manhã, antes de ir para a escola (grupo escolar), pus a gaiola do lado de fora de casa, no quintal, e deixei a porta aberta (não tive coragem de soltá-lo). Fiz um acordo comigo: se ao voltar da escola ele ainda estivesse lá, era porque queria ficar comigo e eu não o soltaria mais. Aquela manhã deve ter sido uma das que eu menos me concentrei na aula (geralmente eu não me concentrava muito mesmo). Contei as horas, minutos, segundos, até que a “campa” tocou anunciando o fim da aula. Corri pra casa. Coração na mão. Fui direto pra gaiola...Sim, ele havia ido embora. Seguiu seu instinto, como eu, finalmente, seguiria o meu. Fiquei triste por uns dias. Acho que até fiquei tentado a ter outro passarinho em gaiola. Mas não consegui. Não tive mais coragem. Naquele tempo, por conta dos meus pouco mais de 10 anos de idade ainda não sabia o que hoje continuo aprendendo. Como aquele passarinho que não voltou depois de ser libertado, o amor que jorrou de meu coração também não poderia mais “voltar a ser aprisionado”. Teria que ser livre, crescente, infinito, e, acima de tudo, incondicional. 

quinta-feira, 18 de outubro de 2012


Foto by Taiana


A janela e o tempo

                                      Osvaldino Junior


Por fora de nossa janela o tempo não passa.
O sol continua pontualmente o mesmo
E a chuva sempre convidativa para um novo banho.
Eles não têm culpa pelo que não mais se faça.

Por detrás de nossa janela não há relógios nem calendários
A mocidade e a velhice são coisas aqui de dentro
Aonde habita o tempo e nunca se tem tempo.
E a vida tem sempre contornos de um antiquário.

Por detrás de nossas janelas há vida.
Protetor solar e guarda-chuvas são coisas aqui de dentro
E o medo ? É ainda mais de dentro.

De dentro de nossas vidas contidas
Nos vidros de nossas janelas.