sábado, 13 de outubro de 2012

Réquiem para o Mestre Paulo Chermont



Hoje caiu um Príncipe de Israel, e dos grandes”.
( 2 Samuel, cap. 3, versículo 38)

Engraçado como hoje faço as contas e percebo que tenho mais idade do que o senhor tinha quando nos conhecemos. O senhor tinha 41 e eu 22 quando fui estagiar no escritório da Campos Sales. Dali fomos para o andar superior da agência Nazaré do Itaú. Ao todo foram quase 7 anos de aprendizado diário que tive, e que continuaram mesmo depois que, já advogado, nos separamos. É engraçado porque eu dizia, então, para mim mesmo que gostaria de ser um homem e um advogado igual ao senhor, e, hoje fazendo as comparações, não cheguei nem perto. Mas, eu tentei e continuarei tentando. Nesses últimos 20 anos nunca deixei de visitar ao senhor e a Dra. Lívia em seu escritório, onde eu voltava a ser um simples estagiário, encantado com suas palavras, sua experiência, e sua eterna simplicidade. Hoje, mesmo na dor, consigo sorrir lembrando-me dos trejeitos que o senhor fazia na voz para imitar alguém numa situação que me relatava. (Como a imitação que fazia do professor Julio Alencar, numa famosa aula sobre processo de execução: “téin béins”) E seus jargões – “tô de saco cheio”. Gente arrogante? “babacas”. É isso mestre, eu gostava mesmo era de ser seu estagiário. Mesmo quando cheguei aos 50 anos, e a diferença de idade já não importava, o senhor nunca se tornou para mim o “Paulo” ou o “Chermont”, mas foi e continuará a ser o “doutor Paulo”. Sobre advocacia não é exagero afirmar que o senhor ensinou-me quase tudo. Entrei um menino, acadêmico, e saí um advogado, pleno de orgulho por esta nobre e bela profissão que o senhor exerceu diariamente, com ética, honestidade, e sobretudo amor. Dentre as lições práticas, lembro que se referia a seus professores como “MESTRES”. Incorporei esse tratamento e passei a tratar-lhe assim sempre que nos reencontrávamos, ao que o senhor com a espontaneidade e sinceridade que lhe marcaram retrucava, “que é isso, mestre é você”. Quantas vezes ouvi-o chamar-me na rua: “Dó-c-tor Os-val-dino!”, que era uma espécie de apelido com que o senhor demonstrava seu carinho por mim, como também demonstrava pela “Katinha”. Ana Paula disse bem, o senhor punha apelidos em todos, e era cada um mais criativo do que o outro.  Estou sentindo e vou continuar sentindo muito sua falta. Houvesse um satélite no espaço que fotografasse a “floresta dos grandes homens” aqui na terra, e desde domingo ele registraria a imensa devastação que sua partida deixou. Doravante já não poderei reabastecer-me de seu carinho e generosidade, mas consola-me sentir que a experiência de conviver com o senhor deixou em mim marcas que serão como “digitais” do seu caráter no meu. Consola-me que o senhor tenha deixado seus traços em seus filhos; que a doutora Lívia tenha muitas histórias inéditas para contar-me, e com eles pretendo matar saudades. Consola-me saber que ainda tenho seus irmãos e irmãs. Consola-me saber que o senhor estará sempre entre nós. Consola-me estar em paz comigo porque nunca em todas as oportunidades que tive, deixei de demonstrar todo meu respeito, carinho, admiração e amor pelo senhor e sua família. Consola-me saber que o senhor partiu em paz. Consola-me saber que, se tivesse oportunidade, me diria uma última vez: “foi um prazer te conhecer, Osvaldino”. Pois eu lhe digo: o prazer foi todo meu, DOUTOR PAULO CHERMONT. Descanse em paz, MESTRE!  

Um comentário:

  1. Tive o prazer de conhecer, merece todas as homenagens, com certeza está em paz absoluta agora.
    Beijo pai.

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