“Hoje caiu um
Príncipe de Israel, e dos grandes”.
( 2
Samuel, cap. 3, versículo 38)
Engraçado como hoje faço as contas e
percebo que tenho mais idade do que o senhor tinha quando nos conhecemos. O
senhor tinha 41 e eu 22 quando fui estagiar no escritório da Campos Sales. Dali
fomos para o andar superior da agência Nazaré do Itaú. Ao todo foram quase 7
anos de aprendizado diário que tive, e que continuaram mesmo depois que, já
advogado, nos separamos. É engraçado porque eu dizia, então, para mim mesmo que
gostaria de ser um homem e um advogado igual ao senhor, e, hoje fazendo as
comparações, não cheguei nem perto. Mas, eu tentei e continuarei tentando. Nesses
últimos 20 anos nunca deixei de visitar ao senhor e a Dra. Lívia em seu
escritório, onde eu voltava a ser um simples estagiário, encantado com suas
palavras, sua experiência, e sua eterna simplicidade. Hoje, mesmo na dor,
consigo sorrir lembrando-me dos trejeitos que o senhor fazia na voz para imitar
alguém numa situação que me relatava. (Como
a imitação que fazia do professor Julio Alencar, numa famosa aula sobre
processo de execução: “téin béins”) E seus jargões – “tô de saco cheio”. Gente arrogante? “babacas”. É isso mestre, eu gostava mesmo era de ser seu
estagiário. Mesmo quando cheguei aos 50 anos, e a diferença de idade já não
importava, o senhor nunca se tornou para mim o “Paulo” ou o “Chermont”, mas foi
e continuará a ser o “doutor Paulo”. Sobre advocacia não é exagero afirmar que
o senhor ensinou-me quase tudo. Entrei um menino, acadêmico, e saí um advogado,
pleno de orgulho por esta nobre e bela profissão que o senhor exerceu
diariamente, com ética, honestidade, e sobretudo amor. Dentre as lições
práticas, lembro que se referia a seus professores como “MESTRES”. Incorporei
esse tratamento e passei a tratar-lhe assim sempre que nos reencontrávamos, ao
que o senhor com a espontaneidade e sinceridade que lhe marcaram retrucava,
“que é isso, mestre é você”. Quantas vezes ouvi-o chamar-me na rua: “Dó-c-tor Os-val-dino!”, que era uma
espécie de apelido com que o senhor demonstrava seu carinho por mim, como
também demonstrava pela “Katinha”. Ana Paula disse bem, o senhor punha apelidos
em todos, e era cada um mais criativo do que o outro. Estou sentindo e vou continuar sentindo muito
sua falta. Houvesse um satélite no espaço que fotografasse a “floresta dos
grandes homens” aqui na terra, e desde domingo ele registraria a imensa
devastação que sua partida deixou. Doravante já não poderei reabastecer-me de
seu carinho e generosidade, mas consola-me sentir que a experiência de conviver
com o senhor deixou em mim marcas que serão como “digitais” do seu caráter no
meu. Consola-me que o senhor tenha deixado seus traços em seus filhos; que a
doutora Lívia tenha muitas histórias inéditas para contar-me, e com eles
pretendo matar saudades. Consola-me saber que ainda tenho seus irmãos e irmãs. Consola-me
saber que o senhor estará sempre entre nós. Consola-me estar em paz comigo
porque nunca em todas as oportunidades que tive, deixei de demonstrar todo meu
respeito, carinho, admiração e amor pelo senhor e sua família. Consola-me saber
que o senhor partiu em paz. Consola-me saber que, se tivesse oportunidade, me
diria uma última vez: “foi um prazer te conhecer, Osvaldino”. Pois eu lhe digo:
o prazer foi todo meu, DOUTOR PAULO CHERMONT. Descanse em paz, MESTRE!
Tive o prazer de conhecer, merece todas as homenagens, com certeza está em paz absoluta agora.
ResponderExcluirBeijo pai.